Jota Junior é uma lenda da narração esportiva brasileira, fez parte da grande e inesquecível equipe de esportes da Band nos anos 80 e 90 e hoje continua exercendo sua função com maestria na Sportv.
Qual sua formação e trajetória até os dias de hoje?
Jota Júnior: Desde pequeno eu me encantei pelas narrações de rádio (quando comecei, a televisão quase não transmitia futebol). Ouvia muito rádio e especialmente as transmissões do futebol.
Iniciei narrando em Americana (1969), depois Limeira, Campinas e São Paulo.
Em São Paulo foi à partir de 1976 na Gazeta, e ali tive as primeiras experiências na televisão.
Em 1980 fui para a Rádio Bandeirantes.
Em 1983 passei a narrar pela TV Bandeirantes, onde fiquei até janeiro de 99.
Estou no canal Sportv desde marco de 1999.
** Curiosamente não cursei faculdade de jornalismo, pois quando comecei ela ainda não existia. Me formei em Direito em 73, mas pouco trabalhei nessa profissão, pois passei a me dedicar totalmente ao rádio, jornal e depois a televisão.
G: Mudaria alguma coisa? Falta algo à sua formação?
JJ: Pequenas mudanças na narração a gente vai fazendo periodicamente. Mas sem desvirtuar o principal, que é a fidelidade às imagens e ao formato jornalístico do trabalho.
G: Como é possível inovar e se destacar como narrador?
JJ: Com a forca da imagem, acho difícil inovar nas narrações. Sou avesso a bordões, mas respeito quem se utiliza deles. Não gosto do narrador que aparece mais que o espetáculo. Ele é simplesmente um coadjuvante do espetáculo em si. Tem o seu valor, mas não pode ser mais importante que a imagem.
G: Como é ser mais conhecido pela sua voz do que pela sua imagem?
JJ: Na verdade, poucas são as pessoas que identificam os comunicadores corretamente. Normalmente somos confundidos com colegas, e vice-versa. Chega a ser engraçado. Não me incomoda o fato de ser mais conhecido pela voz. Gosto de cumprir o meu papel na transmissão, só isso.
G: Quais suas ambições profissionais?
JJ: Ambições já tive muitas, mas no momento quero apenas ser útil na máquina da empresa. Pretendo continuar com saúde para seguir trabalhando em algo que gosto muito.
G: Como você se definiria como profissional?
JJ: Me defino como um profissional que por onde passou foi útil às empresas. Não fiz nada brilhante, mas sempre com honestidade e correção.
G: Quem é o maior profissional com quem você já trabalhou? Quem o inspira a ser cada vez melhor?
JJ: Admiro muito os profissionais que além do talento, são humanos e sensíveis. Tive e tenho muitos colegas e amigos assim. Quem se deixa levar pela vaidade, normalmente não tem o espírito de grupo e não se relaciona bem com os demais. Sem citar nomes, mas no meu time apenas escalo pessoas de caráter.
G: Qual seu maior defeito e qualidade? Se pudesse se dar um conselho, o que diria?
JJ: Certamente tenho muitos defeitos como profissional, mas o maior deles é não gostar de fazer longas viagens. Já fiz muitas ao longo da carreira, mas várias vezes pedi para não ir, e certamente comprometi alguns esquemas e projetos.
G: Qual o maior erro que você já cometeu como jornalista (ideologicamente e/ou no dia-a-dia)?
JJ: Devo ter cometido um sem-número de equívocos. Errei muito, certamente. Mas tenho a qualidade de me preocupar muito com os erros e ser teimoso em procurar não mais cometê-los.
G: Qual sua maior vitória ou o que mais se orgulha de ter realizado na profissão?
JJ: Minha maior vitória talvez seja o de alcançar um estágio na carreira onde as pessoas muito me respeitam. Às vezes até me surpreendo com o respeito que as pessoas me dedicam. Isto é muito gratificante.
G: Qual o maior momento da sua carreira?
JJ: Meu maior momento na carreira talvez tenha sido a realização do sonho de trabalhar em São Paulo. Minha estréia no rádio paulistano foi cheia de emoção. Cheguei a um lugar onde almejei desde criança. E depois a minha primeira Copa do Mundo, na Argentina em 1978.
G: Qual sua maior decepção no esporte?
JJ: Foi a eliminação da seleção brasileira na Copa de 82, na Espanha. Eu estava trabalhando pela Bandeirantes nesse Mundial e aquela derrota para a Itália foi algo impressionantemente triste. O mundo chorou com aquela eliminação do time de Telê Santana.
G: Qual notícia ou fato do mundo esportivo você gostaria de ter narrado?
JJ: Talvez a final da Copa de 1958, pois eu tinha dez anos de idade e aquelas vozes do rádio me impressionaram demais. Aquela seleção brasileira era toda ela composta de meus primeiros ídolos no esporte. Se pudesse fazer o tempo voltar, eu me colocaria no estádio Rasunda, Estocolmo, transmitindo aquela final contra os suecos.
G: Você lê blogs? Quais você costuma acessar?
JJ: Leio blogs aleatoriamente. Alguns me são indicados, outros são de amigos jornalistas. Mas gosto dessa ferramenta moderna, onde todos podem exteriorizar suas idéias e projetos.
G: Como narrador, por mais que possa opinar, os comentários ficam por conta dos comentaristas, o blog é pra você um lugar de exercer seu lado comentarista?
JJ: Sobre ter um blog, sempre escrevi (para jornais, revistas, tablóides). Gosto muito de escrever. Quando comecei em rádio, 1969, comecei também em um jornal da minha cidade. E à partir disso, nunca parei. Comentar é muito legal, embora provoque discussões e divergências, obviamente. Meu lado "comentarista"é exposto no meu blog e em jornais que ainda colaboro.
G: Qual a diferença, pra você, entre o relacionamento com os leitores do blog e com os telespectadores?
JJ: Não vejo diferenças entre os comentários dos leitores de blog e telespectadores. No fundo, são todos fãs do esporte e têm suas opiniões próprias. Mas acho também que as divergências devem ser respeitosas. As discussões são de caráter filosófico, e sem guerras pessoais. Também pelo fato de o futebol ser apenas um esporte. Há muitas coisas mais importantes que o futebol para se discutir.
G: Como narrador, você acredita que precisa ser ainda mais isento que qualquer outro jornalista?
JJ: Todos os que trabalham jornalisticamente no esporte precisam ter isenção. É uma questão de respeito aos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. E dá para ser isento. Basta a conscientização e o exercício desse item. Narrador, comentarista, repórter, colunista, todos têm a obrigação de analisar friamente os fatos.
G: Você é a favor de revelar seu clube do coração? Qual o seu?
JJ: Não acho necessário revelar o clube do coração. E em caso de se revelar, o comunicador sempre estará na mira da suspeição sobre um comentário ou colocação. Não vejo necessidade disto, também.
G: Você consegue ser imparcial?
JJ: Acredito que eu tenha sucesso no meu intento de ser isento, pois quantas vezes já fui criticado por torcedores do time pelo qual tenho simpatia.
G: muitos narradores defendem o "estilo Galvão Bueno", ufanista e parcial para o lado brasileiro. Outros, preferem dizer que narram todos os gols da mesma maneira. Qual o "estilo Jota Junior"?
JJ: Escrevi em resposta anterior que gosto de locutor que respeita as imagens. Que não queria ser mais importante do que elas. O espetáculo é por si próprio o alvo das atenções. O comunicador é apenas um complemento do que está sendo visto. Ele apóia o telespectador nas informações, na identificação dos atletas e caminha com as emoções apresentadas. Eu, como telespectador, não gosto de narrador que queira ser mais importante do que aquilo que está sendo mostrado.
G: Quais suas lembranças da época de Geraldino?
JJ: Não fui um Geraldino muito fanático. Gostava mais de jogar do que de assistir futebol. Num estádio não me sinto muito à vontade em meio à multidão. Ficava longe de tumultos e de aglomerações.
G: Você fez parte da geração "Bandeirantes, o canal do esporte", como foi fazer parte da equipe que ajudou a popularizar muitos esportes pelo país? Qual a importância daquele momento para a sua carreira e para o esporte brasileiro?
JJ: Passados 10 anos do fim do Show do Esporte, ainda sinto a repercussão daquela estupenda fase da Band. Sou muito reconhecido ainda por ter participado da equipe de Luciano do Valle. Me valorizou muito. Aprendi como profissional e como pessoa. Foi uma época mágica de nossas vidas. Éramos unidos fortemente. Valeu e muito.
Jota, você fez parte de uma equipe que marcou época na televisão brasileira, a equipe de esportes da Band das decadas de 80/90, como surgiu a ideia da formação dessa equipe e como você foi convidado a fazer parte dela ?
O projeto SHOW DO ESPORTE do Luciano do Valle começou na Record em 83 e depois levado para a Band a partir de janeiro de 84. Eu estava na Bandeirantes quando Luciano chegou e já fazia transmissões pela TV Band além da Rádio Bandeirantes. Luciano me convidou pra ficar só com ele na tevê e aceitei.
O que te marcou positivamente e negativamente nessa época ?
Tudo foi positivo durante os quase 15 anos que durou o SHOW DO ESPORTE com Luciano à frente. Só aprendi e cresci profissionalmente.
Qual sua maior realização como profissional ?
Sempre sonhei em ser um profissional de rádio. Depois veio a televisão. Me considero realizado na carreira só de conseguir viver dela.
Qual sua maior decepção ?
As decepções são as pessoas que não respeitam a profissão e os colegas. E há muitos, inclusive em chefias. Concorrência desleal é horrivel e isso me decepciona muito.
Como você se descobriu jornalista ? Quando começou a narrar jogos ?
Meus pais contam que desde pequeno comecei a ouvir futebol no rádio e depois "narrar" jogando botão. Narrar pra valer foi a partir de 1969 em Americana, minha cidade. Me iniciei transmitindo jogos dente-de-leite.
Qual a maior dificuldade de um narrador de futebol ?
Acho que a maior dificuldade é encontrar o próprio caminho, o estilo próprio. A gente se espelha em alguém, o que é natural, mas depois tem que achar o seu modelo de relatar.
Qual a sua opinião sobre o atual jornalismo esportivo no Brasil ?
Nosso jornalismo esportivo é bom, desde que não beire às raias da irresponsabilidade. Há que fazer um trabalho leve, suave, descontraído, mas sem arranhar a integridade de quem compõe o mundo do esporte.
O que você jamais faria como jornalista ?
Como jornalista jamais iria contra os fatos e a veracidade deles. Fidelidade à informação é fundamental.
Qual o sistema que considera ideal para que o Brasil comece a trilhar caminhos socialmente mais equilibrados com uma distribuição de renda mais justa?
Além dos caminhos politicamente corretos, é necessário que os homens públicos respeitem mais o dinheiro dos impostos(que vem do povo) e o apliquem com objetividade e seriedade. O politico brasileiro precisa fazer menos "politica" e trabalhar duramente na resolução das questões sociais.
Na sua opinião o que mudou na maneira de pensar e de agir do Presidente Lula ? Porque ?
Lula mudou porque sentou-se à cadeira do poder e também porque ficou mais velho e perdeu a vigorosidade oposicionista que detinha antes. O que ele combatia antigamente, acabou vendo que resolver não é tão fácil como lhe parecia.
Quais as suas maiores decepções na area politica e qual o politico que o surpreendeu positivamente ?
As decepções na área politica ficam por conta do BLÁ BLÁ BLÁ dos homens públicos e dos escândalos verificados em todos os segmentos. Positivamente, os poucos que ainda têm a noção do ridiculo e tentam consertar os bastidores politicos.
O que vale a pena assistir hoje na televisão brasileira ?
Dificil enumerar o que é bom de se ver na televisão porque os gostos variam. Particularmente, vejo de tudo um pouco(até por ser o veiculo da minha profissão) e sou muito critico ao analisar.
Na sua opinião quem melhor escreve sobre esportes no Brasil ?
Temos vários bons escribas do esporte: Renato Mauricio Prado, Armando Nogueira, Juca Kfouri
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Qual o melhor comentarista ?
Respeito a todos os comentaristas, mas não aprovo os que fogem da racionalidade dos argumentos e buscam o sensacionalismo. Prefiro os contidos e técnicos.
Melhor programa de TV sobre esportes ?
Não saberia dizer qual o melhor programa de esportes da televisão. Todos têm os pontos positivos e negativos.
Melhor narrador ?
Não creio que haja o "melhor narrador". Cada um tem o seu valor num ou outro quesito.
Se inspirou em algum narrador no inicio de carreira ?
Na televisão, não. No rádio ouvia muito Vanderlei Ribeiro, Marco Antonio, Pedro Luís, Jorge de Souza e tantos outros. Peguei um pouquinho de cada.
Defina em apenas uma frase:
Bandeirantes : Uma casa de trabalho onde me senti muito bem durante 19 anos.
Luciano do Valle : Um baita comunicador e uma ótima pessoa.
Sportv : Ótimo ambiente de trabalho e o canal mais importante de esporte do Brasil na atualidade.
Jornalismo : Uma das profissões mais dificeis, pela responsabilidade social que tem.
Narrador : É o relator do evento, onde na tevê é apenas um coadjuvante, mas no rádio é a peça principal.
Brasil : Ainda vai ser o exemplo maior para o mundo.
Lula : Bem intencionado, mas sem gabarito para administrar uma máquina tão grande como a nossa.
Pelé : Uma das figuras humanas mais sensiveis que conheci.
Jota Junior : sei lá………..
Jota, muito obrigado pela entrevista.
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